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EXU, sexualidade e sexo - como guardar o Exu do nosso corpo e preservar o nosso axé.



Exu é pele, sangue, ossos, músculos e anima. O senhor da ordenação do universo é boca, olhos, ouvidos e espiritualidade. Exu é o corpo.

Quando nos diversos cultos assentamos Exu, antes de fazermos qualquer outro procedimento mais profundo, não o fazemos apenas para ele ser o elo entre nós e as outras divindades. Sobretudo, fazemos como forma de termos o nosso corpo resguardado. Pensando Exu como essa potência ancestral, a força contida em todas as células suscitando vitalidade, ao assentarmos estamos iniciando, igualmente, processos profundos de culto ao nosso CORPO.

Pouco fomos educados a aprender sobre essa espiritualidade menos mística e mais prática. Por vezes parece haver uma dicotomia entre o realizado dentro do terreiro e a vida cotidiana. Mas não deveria ser assim. As práticas no ilê precisam serem levadas para o dia a dia. Espiritualidade não é (apenas) religião. Ela sustenta modos profundos de existir.

Assim sendo, aqui quero pensar sobre a importância de cuidarmos do Exu do nosso corpo no cotidiano e não apenas através de rituais (necessários). Inclusive algumas práticas nossas desfazem ou enfraquecem o ritual ao invés de potencializá-lo. Exu, ao contrário do propagado no sincretismo das diásporas, não é o ser permissivo. A ele cabe a organização, mesmo turbulenta, daquilo antes desordenado. Com isso, desejo chamar a atenção sobre o modo como nós cultuadores de Orixás, por vezes, temos relações de descaso com o nosso corpo, aqui fazendo um recorte sobre a vivência da sexualidade e práticas afetivas-sexuais.

Ressalvo: este texto não pretende ter nenhum viés moralista. Ele se constrói a partir da articulação de conhecimentos sistematizado mais a minha experiência vivida e aquilo advindo dos saberes ancestrais, obtidos através da oralidade e do que vem sendo discutido entre cultuadores de Orixás.

O corpo é o templo sagrado maior para diversas religiões e cultos. Não é diferente para as espiritualidades Orixaístas. Assim sendo, faz-se preciso pensarmos em como esse Exu íntimo nosso não pode perpassar de forma descuidada por outros corpos. Não sabemos se as pessoas cuidam dos seus Exus com a mesma atenção por nós dada.

Se para Freud a pulsão sexual era tida como uma das maiores forças dos seres humanos, para os OrixaÍstas isso não é diferente. Ainda que essa pulsão não se limite ao sexo, a prática sexual envolve uma carga energética grande. Trocas intensas capazes de te desorganizar por muito tempo.

Para os iniciados isso se intensifica. Pois seu corpo não é apenas “seu”. Ele é compartilhado com os Orixás e ancestrais ligados à ti e todos estes, de certa forma, são dependentes dos seus cuidados. Lembra do corpo como templo? Seu corpo antes da iniciação já era sagrado, após a iniciação, torna-se-á templo vivo das forças convidadas a nele fazer morada. Qualquer das práticas realizadas irão interferir diretamente no seu ser.

Você já se sentiu cansado ou com peso nas costas ao abraçar alguém? Já ficou com dor de cabeça ao ter uma relação sexual pela primeira vez com uma pessoa? Durante o sexo você já sentiu vontade de parar com tudo, mesmo sendo aquela transa prazerosa? Após alguns encontros íntimos você sentiu-se mal, angustiado ou enjoado?

Fique atento aos sinais. Exu - essa potência presente no nosso corpo -  nos manda sempre algumas informações para sabermos quando a troca de energia foi boa ou ruim. Pense sempre no seu corpo como o templo sagrado, o Exu guardião, que não deve ser compartilhado com qualquer um.

Aqui não estamos ditando regras. Não é ser contra o sexo casual ou a favor de relações monogâmicas, poliamorosas e relacionamentos abertos. Nossa discussão perpassa pelo cuidado espiritual reverberado para as práticas do nosso cotidiano. Preserve-se sempre. O cuidado com a espiritualidade demanda tempo, dinheiro, dedicação e esforços; não desperdice esse axé acumulado.

Cuidar do nosso corpo é cuidar de Exu e, por sua vez, do seu equilíbrio espiritual. A realização de boas práticas fortalecem o nosso axé. As boas práticas podem ser o cuidar da alimentação, fazer atividade física, construir boas amizades e amar a si. Deste modo, com o autocuidado, certamente você pensará duas vezes antes de compartilhar o seu Exu - a potência ancestral em si que sustenta seu corpo- com alguém.

TEXTO: Van Sena Omoloji
ARTE: Wadson Silva
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