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O perigo da exposição dos rituais do candomblé nas mídias sociais


Há algum tempo venho percebendo como o uso das mídias sociais por alguns de nós candomblecistas, de forma desenfreada, está construindo olhares equivocados sobre os cultos aos orixás, vodus e mikisse. Toda vivência religiosa e espiritual deveria ser uma experiência do sujeito sem a intervenção de apetrechos tecnológicos interferindo nesse processo.

Mais que registrado o axé deve ser “experienciado”. Usa-se a máquina, perde-se a relação. Além disso, quantas brechas podem ser abertas no momento em que, descuidadamente, coloca-se registros dos cultos nas mídias sociais?

Ao contrário de alguns candomblecistas que entendem a tradição religiosa como imutável, eu não nego a influência do tempo e de todas as energias de renovação sobre o candomblé. Não sou contra ao uso das tecnologias nos terreiros; temos o orixá Ogun que é entendido por nós como senhor das tecnologias (em seu amplo sentido), logo as tecnologias, assim como tudo que existe, possui a força dos Orixás.

Entretanto seu uso deve ser comedido. Do mesmo modo que podemos acolher as tecnologias, também devemos preservar aquilo que fora aprendido durante séculos e repassado, cuidadosamente, por nossos ancestrais.

Ao publicar fotos ou vídeos de atos que deveriam ser reservados aos participantes do culto, podemos abrir brechas para críticas infundadas. Em alguns casos até por outros candomblecistas que não conhecem a fundo os diversos ritos religiosos de todas as nações e fazem colocações vazias sobre processos fora do seu âmbito.

O uso das tecnologias deve servir para nos ajudar nas atividades comuns: limpeza do ilê, na preparação da comida para as pessoas, na manutenção da casa.... Fotografar e filmar apenas pontualmente, por pessoas indicadas da casa, em momentos festivos, jamais em momentos que devem ser reservados, curtidos, presenciados pelo corpo-alma.

Ressalvo a sugestão: o registro no momento festivo deve ser feito por alguém da casa que cuide para que as fotos e vídeos não cheguem as perigosas mídias sociais.

Infelizmente pessoas racistas, intolerantes e preconceituosas podem se utilizar das imagens publicadas nas redes sociais para militar contra nosso culto. Mais infelizmente ainda irmãos imaturos, despreparados para lidar com o desconhecido, em suas deficiências de educação doméstica, também podem utilizar-se, sem fundamento, de uma foto ou vídeo para criticar aquilo que ele não conhece ou conhece e, por ver diferente, julgando-se dono da verdade, apresenta nas mídias sociais a imagem como prova da suposta "marmotagem" da casa alheia.

Se você é filho ou visitante de algum espaço que julga que acontece algo que seja equivocado, sugiro que não divulgue isso de forma inconsequente. Procure pessoas que possam te ajudar na resolução desse conflito, sendo a zeladora da casa a primeira a ser consultada para elucidar o ocorrido e não sendo o único meio viável, busque autoridades competentes como o Culto Afro.

A ideia desse texto não é ditar uma regra, mas apresentar alguns dos resultados do mau uso das mídias sociais para divulgação do nosso culto. É importante que o bom senso seja o Norte das nossas ações sempre.

Menos fotos, menos vídeos. Viva a presença do Orixá!

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